COMEQUIÉ?


Gentem...

Pra quem não sabe eu sou Bibliotecária, viu?!

E é isso aí, com 'B' bem maiúsculo!

Cursei BIBLIOTECONOMIA, tá?! Curso superior (é isso mesmo!), hoje também conhecido como Ciência da Informação. E cursei na Universidade de Brasília - considerada a Federal do DF - não foi em nenhuma faculdade de fundo de quintal, dessas que proliferam por aí hoje em dia.

Foram 5 anos de faculdade, 4 de estágio, especialização em Marketing de Serviços e pós-graduação em Análise de Sistemas (para poder saber dizer o que eu quero de um Analista e não para ser um, viu?!). E ainda assim tem horas em que eu acho que não fui preparada o suficiente para todas as mudanças vertiginosas que assolam esse nosso mundo, hoje essecialmente informacional.

E vem uma criatura - de outro universo paralelo, só pode! - e brada aos 4 ventos que minha profissão é 'singela' e que meu curso superior 'faz parte do grande mercado de ilusão dos tempos modernos'!!!

Fico me perguntando a que 'tempos modernos' esta criatura se refere. E do fundo da minha indignação, só posso deduzir que este senhor deve achar que ser aposentado e gostar de ler são os únicos pré-requisitos para ser um bibliotecário. Assim como saber 'datilografar' e arquivar cartas, o suficiente para ser um sercretário. Alías só faltou ele dizer que essas 'singelas' profissões devem ficar restritas ao universo feminino.

Ógueim melece????

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Entulhos Autoritários

Por Mauro Santayana

O veto do Presidente Lula ao projeto corporativista da Federação Nacionalde Jornalistas, que tornava ainda mais iníqua a lei da Junta Militar contra a liberdade de expressão, deve ser visto também como o início do retorno ao bom senso na política de emprego e trabalho em nosso país. O projeto, como se sabe, foi apresentado pelo 'destacado' parlamentar Pastor Amarildo, do PSC de Tocantins, que se encontra envolvido até o pescoço no charco dos sanguessugas.

Faltou à Câmara e ao Senado o cuidado de examinar a proposta, do ponto de vista constitucional (convém perguntar para quê existe a Comissão de Constituição e Justiça nas duas casas). Não só a exigência de diploma para o exercício do jornalismo contraria o capítulo de Direitos e Garantias da Carta em vigor, como também viola os acordos internacionais de que é signatário o Brasil, conforme deixou bem claro o ex-chanceler Celso Lafer, em artigo recente, publicado pela 'Folha de S. Paulo'. Os acordos internacionais integram o elenco de leis nacionais, a menos que sejam formalmente rejeitados. Sendo assim, para cumprir o que determina a Organização dos Estados Americanos, o que o governo deve fazer é revogar, pura e simplesmente, a lei de 1969, um dos últimos entulhos autoritários do regime militar.

A minha posição sobre o assunto é conhecida há muitos anos. Nunca neguei que também defendo uma posição de classe. A liberdade de imprensa - e não 'da' imprensa - é a liberdade de expressão impressa, ou seja, a de qualquer pessoa escrever e publicar o que quiser, sem licença do poder público. Ela não pode ser restrita aos que têm acesso à universidade, por melhor que seja a universidade. Certa vez - e disso se lembrará o presidente Lula - disse-lhe, e aos que o acompanhavam, em jantar em Roma (entre eles, o excepcional jornalista e melhor figura humana que é Ricardo Kotshko), que ele, o torneiro mecânico de Garanhuns, poderia vir a ser presidente da República - o que veio a ocorrer bem depois -, mas estava impedido de trabalhar como simples repórter do Diário do Grande ABC.

É certo que para dirigir um automóvel, que nunca consegui aprender, é preciso freqüentar uma escola especializada e submeter-se a teste prático. É inadmissível o trabalho do cirurgião que não conheça anatomia e fisiologia, e não seja hábil com o bisturi. Mas a única técnica que convém a um jornalista dominar é a da redação, e o único curso recomendável é o elementar, onde aprenda bem as regras corriqueiras da língua pátria. E, ao que parece, ortografia e gramática não fazem parte dos currículos universitários. Não me canso de repetir que a essência de nosso ofício não é técnica, mas, sim, ética. Certa vez, na Comissão de Estudos Constitucionais, como se lembrará o professor Cândido Mendes, tive difícil diálogo com um dos mais respeitáveis brasileiros do século passado, o venerável Barbosa Lima Sobrinho, que defendia a exigência do diploma. Eu lhe disse, então, que a nossa atividade pode ser a mais honrada de todas, ou a mais abjeta delas, dependendo de quem a exerça.

O diploma não confere honra a ninguém, nem impede que se avilte. A proliferação de cursos universitários, para ofícios singelos, como os de bibliotecários e secretárias, faz parte do grande mercado de ilusão dos tempos modernos, e serve ao fundamentalismo mercantil. Milhares e milhares de jovens sacrificam-se e sacrificam seus pais na busca de um diploma que lhes venha conferir modesta estabilidade, e acabam caindo na fossa do desemprego e do desespero. É hora de voltar ao senso comum.


Publicado na coluna Coisa da Política do "Jornal do Brasil", em 28/07/2006

4 Pitacos:

Anônimo disse...

Adoro o meu País! Mas que tem horas em que realmente me dá vontade de juntar meu pé-de-meia, cancelar tudo e ir embora, isso com certeza. Esse texto prova bem isso, e olha que não saiu publicado em qualquer pasquim, foi no JB!
Mas pensando bem, eu comecei minha vida profissional quando os computadores estavam começando a entrar em nossas vidas, vou me aposentar logo, e NÃO VI AS PROFISSÕES LIGADAS A INFORMÀTICA SEREM REGULAMENTADAS...
Será que estou na categoria "mais-que-singelo"?

Thaty disse...

Talvez esta criatura ache que, para ser bibliotecária dos tempos modernos, a pessoa deve ser formada em ciência da computação e pós em web. Assim, pode publicar as obras na internet e todos poderão acessar. Claro, porque todas as obras estão disponíveis em modo digital hoje em dia, não estão? Aliás, todas as pessoas também têm acesso a computadores e à internet.

Ou talvez ainda ele ache que sua função seja de guardar livros na estante. Por isso todas as bibliotecas têm aquelas plaquinhas: por favor, não guardem os livros. É pq se todos resolverem guardar, vocês perderão o emprego...kkkkk

Cada um que aparece, né????

Tô com saudades!

Beijocas

Anônimo disse...

Ué?
A pissoa acha que o único requisito para ser bibliotecário é gostar de ler?
Não é o único mas, vc tem que concordar comigo, q é necessário. Eu conheço uma anta que não gosta de ler e é sua colega de profissão, e não dá nem para tentar conversar com a criatura.

Baiduei, já ouviu falar da "Sindrome da Biblioteca de Babel"?
Então leia isso aqui:
http://www.verbeat.org/blogs/biajoni/ - o post de 10 de agosto.

Muito, muito bom...
beijins

Sora Soralina disse...

Apois num é???
Tá certo que gostar de ler é um grande plus, e uma boa bagagem cultural uma necessidade.

Mas realmente, eu ouço de pessoas razoavelmente cultas, penduradas aqui no meu balcão mesmo, que viram pra mim e soltam a pérola: "Ah... mas deve ser bom ser bibliotecária, né? Vc fica só lendo e guardando livro o dia todo...""

Óguein melece???

Não conhecia o conto. Comecei a ler e tô achando interessante. Afinal, ao contrário do q muitos pensam, eu não fico só lendo!

Rsrsrs... Quem me dera!!!