BOCA FAMINTA


"Quero alguém que coma meu coração.
Uma boca diligente e alheia.
Pretendo oferece-lo, vermelho e afoito, a algum
desconhecido faminto e desprovido de pequenos medos.
Posso imaginar a cena: olhares sequiosos e
cúmplices de um crime de amor.
Depois, os dedos ávidos e longos do desconhecido
sufocariam meus seios fartos de Ofélia, - mais um olhar - e,
obstinado, rasgaria minha pele,
cavando meus ossos com aflição agônica.
Por fim, partiria meu peito ao meio,
arrancando-me o coração e mastigando
com volúpia meus segredos e dores, como um náufrago.
Eu veria Deus!"

Poem also by Ivana Debértolis

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