ODE À CEBOLA

Essa vai para a TiaLú...
Para que um dia ela possa ver a beleza que Neruda viu.


Photo by Wagner Campelo


Cebola,
Luminosa redoma,
pétala a pétala cresceu a tua formosura.
Escamas de cristal te acrescentaram
e no segredo da terra escura
se foi arredondando o teu ventre de orvalho.
Sob a terra foi o milagre
e quando apareceu o teu torpe caule verde
e nasceram as tuas folhas como espadas na horta,
a terra acumulou o seu poderio
mostrando a tua nua transparência,
e como em Afrodite
o mar remoto duplicou a magnólia
levantando os seus seios,
a terra assim te fez, cebola
clara como um planeta
e destinada a reluzir,
constelação constante,
redonda rosa de água,
sobre a mesa das pobres gentes.
Generosa, desfazes o teu globo de frescura
na consumação fervente da frigideira
e a tiara de cristal
no calor inflamado do azeite
transforma-se em frisada pluma de ouro.
Também recordarei como fecunda
a tua influência, o amor da salada
e parece que o céu contribui
dando-te fina forma de granizo
a celebrar a tua claridade
picada sobre os hemisférios de um tomate.
Mas ao alcance das mãos do povo,
regada com azeite,
polvilhada com um pouco de sal,
matas a fome do peão no duro caminho.
Estrela dos pobres,
fada madrinha
envolta em delicado papel,
sais do chão eterna, intacta,
pura como semente de astro
e ao cortar-te a faca na cozinha
sobe a única lágrima sem pena.
Fizeste-nos chorar sem nos afligir.
Eu tudo o que existe celebrei, cebola,
Mas para mim, és mais formosa
que uma ave de penas radiosas
és para os meus olhos
globo celeste, taça de platina,
dança imóvel de nívea anémona
e vive a fragância da Terra
na tua natureza cristalina.
Por Pablo Neruda
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1 Pitacos:

Anônimo disse...

Show!
faltou a receitinha da cebola ao azeite para tira gosto...hummmmmmmm
põaê, vai!