LIVRO DA VEZ - "JULIE & JULIA"

Sim, apesar de já ter mencionado o filme aqui, o que chegou às minhas mãos primeiro foi o livro (Thanks, Nani!).

Eu simplesmente adorei! E ele me tocou exatamente porque aborda duas coisas que me são muito queridas: o escrever (mais especificamente o 'blogar') e a paixão pela cozinha. Gostei tanto que ele está todo marcado e riscado. Rsrs...

O livro é autobiográfico e fala basicamente da encruzilhada em que sem encontra Julie Powell, ao se dar conta de que ela está às vésperas de completar 30 anos, sem um emprego decente e ainda sofrendo a pressão da família e de seu médico para ter filhos. Em crise existencial e à beira de um ataque de nervos, Julie acha a solução ao dar de cara com uma relíquia na casa dos pais: uma edição de Mastering the Art of French Cooking (Dominando a Arte da Cozinha Francesa) de Julia Child, uma das primeiras mulheres a dominar os programas culinários da TV americana da década de 60, introduzindo sua audiência à culinária francesa.

Ao preparar a primeira receita do MtAoFC (apelido do livro dado por Julie) surge em sua mente, com a ajuda do marido, a idéia do projeto que a tiraria de sua crise: fazer as 524 receitas francesas do livro em um ano, e documentar a experiência em um blog. Isso sem nunca ter tido contato com nenhuma das duas coisas antes.

E já adianto... quem bloga e quem cozinha, irá se identificar com a experiência de Julie, seja como for. Julie extrai de experiências como quebrar ovos... tirar tutano de osso de boi... 'assassinar' lagostas... ou até mesmo lidar com o encanamento entupido por suas experiências, lições simples, mas valiosas (filosóficas até), e com as quais eu me identifiquei aqui e ali.

Foram trechos como o que fala de sua alegria quando uma única leitora diz sentir imensamente sua falta, depois de alguns dias de ausência no blog. Eu me sinto assim tbm. O Filosofias aqui não tem um público grande (é mais amigos e família), e para falar a verdade não tô nem aí para este ínfimo índice de audiência. Poder, acima de tudo, pôr no papel virtual minhas idéias e ter manifestações realmente significativas e que fazem a diferença, para mim é o que há! É algo que faço com 'autoindulgência', termo usado por Julie para descrever a forma como Samuel Pepys escrevia. Escritor do sec. XVII, ele era quase que um blogueiro: escrevia sobre tudo o que lhe acontecia e também o fazia por prazer. Entretanto, por viver na era do papel, e não na era virtual, a grande maioria de seus escritos não chegou a ser lida. Diferente daquilo que escrevemos nos blogs de hoje em dia. Diários virtuais, onde expomos nossos pensamentos para quem quiser ler. E lê apenas quem quer.

Outros trechos que me marcaram foram aqueles em que Julie redescobre em algumas receitas o prazer puro e simples de comer e de cozinhar. Como por exemplo quando ela é apresentada por Julia ao tutano de boi. Ingrediente a princípio nada simpático, mas que no final das contas ela compara seu sabor ao de "uma transa muito boa" e depois a algo menos efêmero: ao "sabor de vida bem vivida".

Ou quando finalmente consegue reunir os amigos para comer uma refeição completa tirada do MtAoFC, e tudo corre bem, e tudo fica bom, e ela se pega observando seus convivas: "Estava me sentindo um pouco como uma das heroínas de James Austen, observando os amigos a quem tanto ama. (...) Nenhum de nós saberia com certeza a qual espécie pertencia, exatamente; mas enquanto fôssemos uma espécie que gosta de se reunir para comer e curtir uma noite maravilhosa, isso era o bastante. O que acaba provando, na minha opinião, que jantares entre amigos são como qualquer outra coisa: menos frágeis do que pensamos". E é exatamente assim que me sinto com relação aos convescotes que fazemos entre nossa turminha de amigos: não importa quanto tempo passemos sem nos encontrar, a boa mesa é definitivamente um fator agregador, e tudo fica melhor ao redor dela.

Ou quando ela chega à conclusão de que o cozinhar para ela é o seu worm hole (buraco de minhoca)pessoal, com o qual ela pode ter acesso, quando bem entender, a um universo paralelo onde a "energia jamais é perdida, simplesmente convertida de uma forma em outra; onde [ela] pega a manteiga, os ovos, a carne e prepara pratos deliciosos; onde [ela] pega a raiva, o desespero, e a revolta e, com [sua] alquimia, transforma em esperança e em uma arrebatadora motivação".

Ou até mesmo quando ela confirma algo que já foi escrito, re-escrito, encenado e cantado: que podemos seduzir, sim, cozinhando. Que o ato puro e simples de cozinhar, principalmente algo mais complexo, encerra em si "indetectáveis reservatórios de estímulos, não só gastronômicos, mas também sexuais". E que o simples ato de "fazer isso para outra pessoa, oferecer a ela deleites gustativos obtidos com dificuldade a fim de conquistar outros tipos de prazeres", pode, sim, ser considerado uma preliminar.

Uau! Como me empolguei! E poderia continuar aqui, retirando trechinhos e trechinhos deste livro, como se fossem bocadidtos daquela comidinha das mais gostosas, e depositados na sua 'boca' uma a um. Mas daí, eu tiraria toda a graça, né.

Resumindo, recomendo de com força.

Agora... antes que alguém pergunte, sugiro que você providencie o seu, porque o meu não vai ser 'perdido' por aí, não! Sorry!

Pelo trailer do filme, o roteiro aborda mais o lado da história de Julia Child, do que a de Julie Powell, mas vai ser interessante ver tudo sob outra perspectiva. É esperar para ver...

Julie & Julia era para ter estreado em agosto, mas agora está previsto para chegar às telonas no dia 27/NOV. Anotaí!

5 Pitacos:

Andrehpa disse...

eu 'gradei bem do livro, também. E acho que vc vai se decepcionar um pouco com o filme, muito "comportado" em relação à verdadeira Julie Powell - que é desbocada, apaixonada, drama queen das melhores.

Mas, em compensação, tem a Meryl Streep (de quem eu nunca gostei) em uma interpretação fenomenal.

E, ó: estou terminando de pintar o quarto de hóspedes. Dá seu jeito, aí...

Filósofa-Irmã disse...

Cadê, cadê?!?!?!?!?!

Su disse...

Humm.. Gostei!!
Beijos

Sora Soralina disse...

Ah...
Não sei se vou deixar este viajar, não!

Sora Soralina disse...

Suzie...
Acho que você iria amar este livro.
Ela é bem doidinha como nós...
Meio porquinha, mas divertidamente doidinha!